ATPN: 30 anos de história(s)

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No mês em que a Associação de Turismo do Porto e Norte (ATPN) comemora 30 anos de vida (1995 - 2025), recordamos histórias guardadas na memória de Manuela de Melo, vereadora com os pelouros da Cultura e do Turismo na Câmara Municipal do Porto em 1995 e então Presidente da ATPN, e espreitamos o futuro próximo na perspetiva de Luís Pedro Martins, atual Presidente da Associação. Passamos ainda em revista alguns dos números que mostram bem as diferenças do que era a região em 1995 e aquilo que é hoje, em termos turísticos.

Em 30 anos, a sociedade transformou-se de forma tremenda. As cidades evoluíram, foram criadas inúmeras infraestruturas, incluindo hotéis e vários outros equipamentos. O acesso à Internet e às novas tecnologias passou a ser algo comum e a oferta turística, hoteleira e cultural é alvo de uma melhoria permanente.

O setor do turismo evoluiu com o mundo. Em 30 anos, o crescimento do setor em Portugal, e em particular na região do Porto e Norte, é assinalável. Os alargamentos que se foram realizando no Aeroporto Francisco Sá Carneiro e a abertura da base Ryanair, em 2009, contribuíram para o abrir de portas a mais visitantes na região.

Em três décadas, foram inauguradas estruturas, que servem a cultura e os eventos, como o Europarque, em Santa Maria da Feira; a Casa da Música, o Centro de Congressos da Alfândega do Porto, o Palácio da Bolsa e a Fundação de Serralves, no Porto; a Exponor e o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, em Matosinhos; o Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães; o Multiusos de Gondomar; o Museu do Côa; além dos teatros municipais de Bragança e de Vila Real; e da requalificação e retoma de espaços como o Circuito de Vila Real; o Forum Braga ou o Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, no Porto.

Foram muitos os eventos que se realizaram neste período, destacando-se a Cimeira Iberoamericana, que decorreu em 1998, no Porto – a cidade da noite mais longa, a do São João -, a Capital Europeia da Cultura, em 2001, que acolheu durante quatro anos o Redbull Air Race e a visita do Papa, em 2010, e, desde 2012, a cidade é o palco do festival de música Primavera Sound.

Mas há mais: Guimarães foi Capital Europeia da Cultura, em 2012, e Cidade Europeia do Desporto no ano seguinte, enquanto Braga foi Capital Europeia da Juventude, em 2012, e Cidade Europeia do Desporto, em 2018. O desporto que também é responsável pela atração de visitantes, com eventos como o Campeonato Europeu de Futebol 2004, que envolveu o Porto, Braga e Guimarães, ou a Final da Liga dos Campeões da UEFA, que decorreu no Estádio do Dragão, em 2021.

Pelo caminho, o património da região foi reconhecido pela UNESCO, passando a Património Mundial da Humanidade. Entre eles, o centro histórico do Porto e de Guimarães, as gravuras rupestres de Foz Côa, o Alto Douro Vinhateiro, o Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, os Caretos de Podence e a Louça Preta de Bisalhães.

Manuela de Melo

O Porto era importante para a região, mas a região também era muito importante para o Porto”

Foi um longo caminho até à criação do Porto Convention Bureau. Manuela de Melo, que foi vereadora do Pelouro da Cultura e Turismo da Câmara Municipal do Porto, entre janeiro de 1990 e janeiro de 2002, conta que encontrou o turismo no Porto “absolutamente isolado pela Circunvalação e pelo rio Douro de tudo o que estava à volta”. E que percebeu, na BTL [a feira de turismo, atual Better Tourism Lisbon Travel Market], “que não íamos a lado nenhum se continuássemos assim isolados”. E o mesmo com outras autarquias na região Norte.

Assim, “para podermos ter um produto vendável ao nível turístico”, era preciso, primeiro, ganhar dimensão. Estabelecidas as pontes com outras regiões a Norte do país, avançou-se para uma primeira estrutura de organização: o Porto e Norte de Portugal. “E foi com essa dimensão que começámos a ir à BTL e às outras feiras de turismo europeias”, refere, frisando a aposta nos stands, de forma a dar nas vistas, a mostrar um Porto e Norte desconhecido de muitos.

O passo seguinte passou por “mudar a natureza do turismo que então as agências de viagem promoviam”, muito ligado à tradição, ao património histórico, “coisas muito restritas sob a apresentação de uma área urbana que já estava a querer ser outra coisa que não apenas a tradição”. No caso do Porto, nos anos 90, a aposta passou por dar uma “vertente mais contemporânea e mais cultural àquilo que fosse a nossa oferta turística”. A cidade Invicta criou um plano anual de animação, com atividades em épocas festivas, que tivessem “a participação das pessoas, dos criadores, dos atores, dos músicos do Porto, mas que fossem um chamariz extra para os visitantes”. Afinal, “o património é um elemento fundamental para a promoção turística, mas se este património, ou esse espaço público, for animado com intervenções contemporâneas, ele ganha outra dimensão”. Seguiram-se as restantes regiões, tendo sido assim plantada uma “semente de um chamado turismo cultural” que abarcou todo o território a Norte.

“A partir do momento em que consideramos que estávamos com uma oferta minimamente organizada e com uma dimensão que possibilitava a promoção a sério, então começou-se a pensar no PCB [Porto Convention Bureau, que mais tarde evoluiu para Porto Convention and Visitors Bureau]”, adianta. Foram convidados diferentes intervenientes do setor, várias entidades públicas e privadas, como o Europarque (inaugurado em 1995) ou a Universidade do Porto (que já tinha “importantes faculdades que geravam encontros, congressos, etc.”), por exemplo, além de agentes turísticos da restauração e hotelaria.

Manuela de Melo recorda o dinamismo de Pedro Cardoso, o primeiro diretor executivo do PCB. “Era uma pessoa que achava que a promoção não era só trazer cá uns agentes de viagem ou uns promotores estrangeiros e mostrar-lhe as coisas, mas que fazê-los sentir as coisas era a melhor maneira de os despertar para promover este destino.” Apostava-se, assim, numa “promoção muito sensorial para os agentes que depois iriam difundir e vender o destino”.

O caminho contou, naturalmente, com vários desafios: os de “começar a ter um espaço próprio, a definir-se, a impor-se, quer a nível nacional, quer a nível internacional, como um destino dentro de Portugal que merecia ser visitado”. Essa foi, acrescenta, “a principal batalha do Porto Convention Bureau; foi conquistar congressos, conquistar encontros, conquistar viagens de incentivo, conquistar um turismo cultural que já era muito forte noutros países e cá no Norte, sobretudo, não era”.

A dinamização do processo por parte da Câmara Municipal do Porto teve sempre “uma abertura total às outras Câmaras e às regiões de turismo”. “Havia uma noção de que o Porto era importante para a região, mas a região também era muito importante para o Porto”, e isso foi “a grande vantagem” do Porto Convention Bureau.

Luís Pedro Martins

“2025 é um ano extremamente importante para o Porto e Norte”

“2025 é um ano extremamente importante para o Porto e Norte”, começa por frisar Luís Pedro Martins, Presidente da Associação de Turismo do Porto e Norte. A entidade celebra 30 anos de atividade – “e queremos recordar aqueles que, há 30 anos, tiveram esta visão de fazer uma associação e constitui-la entre públicos e privados” – e é preciso manter as mangas arregaçadas porque o futuro é de continuar a lutar por uma região de turismo forte e sustentável.

Luís Pedro Martins recorda que, desde o início do projeto, havia a noção “de que era obrigatório termos escala  para podermos entrar nesta competição internacional pela captação de turistas e para sermos relevantes para os operadores”. E essa escala só existiria “se fosse muito mais do que o Porto, se fosse o Porto e o Norte”. O Porto seria “uma âncora de futuro muito importante para a região”, mas a região Norte, o Douro, o Minho e Trás-os-Montes são essenciais.

Segundo o responsável, hoje, “temos todas as condições para continuar a crescer”, porque a região tem “infraestruturas que nos permitem acreditar nesse crescimento”. Desde logo, o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, que, há três décadas, “recebia pouco mais de 400 mil movimentos de passageiros” e que, hoje, “conseguiu chegar quase aos 16 milhões”, com “mais de 30 companhias aéreas a operar, mais de 100 rotas a ligar o Porto a vários continentes”.

A Associação de Turismo do Porto e Norte garante que vai continuar a trabalhar na captação de novas companhias. “É um fator crítico de sucesso para este território, a sua conectividade aérea”, afirma. E se há 30 anos “era importante, se não urgente, que o Porto desse lugar a um aeroporto internacional, 30 anos volvidos, é muito importante que este aeroporto volte a dar um salto”. Para Luís Pedro Martins, está na altura de o foco se voltar para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, para se pensar “qual é o projeto da sua ampliação e como é que ele vai ser feito”.

Muito se tem feito pelo turismo no Porto e na região Norte ao longo destas três décadas, como a estruturação dos produtos turísticos – “uma missão que quase nunca se esgota” – e a divulgação da sua diversidade e dos seus ativos. A entidade está a trabalhar com a CCDR-N, no sentido de “aproveitar o vastíssimo património cultural” da região, que precisa de ser organizado, gerido e promovido. “Este trabalho deu lugar a 17 rotas, que têm impacto no litoral, mas também muito impacto, e diria até mais impacto, no interior”, sublinha.

A Associação de Turismo do Porto e Norte pretende também “dar continuidade a um trabalho iniciado em 2019, e que está a trazer bons resultados, que tem sido um ataque muito cirúrgico àqueles mercados que, para nós, são estratégicos e que permitem combater a sazonalidade e atrair mercados com maior poder de compra”. Como exemplo, o mercado americano era, em 2019, o sexto maior mercado; hoje, é o segundo. Mas a ambição passa também por crescer em mercados como o Canadá, o Brasil e a região Ásia-Pacífico. Sempre com a certeza “de que temos já uma oferta muito capaz de poder receber estes mercados” e de os satisfazer.

Outros objetivos de futuro passam também por fazer crescer a oferta hoteleira de qualidade em Trás-os-Montes; por continuar o trabalho de digitalização de toda a oferta; por trabalhar na certificação de um destino sustentável; pelo reforço da vida associativa, com mais ações de networking entre empresários; e pelo reforço das ligações às regiões transfronteiriças.

muito trabalho “sustentado” com a Galiza, como a realização do primeiro cluster de turismo de uma euro-região. Luís Pedro Martins entende que já se percebeu “que são duas regiões vizinhas, são duas regiões amigas, que têm produtos comuns e que fazia todo o sentido poderem apresentar ao mundo dois países, duas regiões, um destino, abrindo aqui uma nova oportunidade de captação de turistas”.

A veemência dos números (1995 vs. 2024)

Os números não enganam e demonstram as diferenças do turismo no Porto e Norte entre 1995 e os dias de hoje.

De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), há 30 anos, em Portugal, o número estimado de visitantes (turistas, excursionistas e passageiros em trânsito marítimo) foi de 22,9 milhões de pessoas, mais 5,3% do que no ano anterior. E os maiores aumentos nas entradas em Portugal registaram-se nos visitantes oriundos da Finlândia (30,2%), Áustria (24,7%), Alemanha (22,2%) e Dinamarca (21,4%).

Os dados do Turismo de Portugal indicam que o setor do alojamento turístico registou, em 2024, 31,6 milhões de hóspedes e 80,3 milhões de dormidas em todo o país. Segundo o Banco de Portugal, em dados divulgados a 19 de fevereiro de 2025, os mercados com maior crescimento anual homólogo foram os EUA (+13,9%), Países Baixos (+13,5%) e Suíça (+10,4%).

Ou seja, houve em Portugal um crescimento de 38% no número de hóspedes, neste espaço de 30 anos.

Estes números refletem-se também na distribuição do número de dormidas pelo território nacional. Se, em 1995, o ranking das regiões mais procuradas indicava Algarve, Lisboa e Madeira, em 2024 este pódio foi ocupado por Lisboa, Algarve e Porto e Norte.

O Porto e Norte acolheu, em 1995, um total de 1.363.754 hóspedes, dos quais 892.992 oriundos de Portugal e 470.762 vindos do estrangeiro. Destes, destaque para os hóspedes provenientes de Espanha (124.813), França (67.759) e Alemanha (53.410).

Olhando agora para 2024, os últimos dados disponíveis, o INE regista no Porto e Norte um total de 7.420.989 hóspedes, dos quais 4.165.900 estrangeiros e 3.255.089 portugueses. Espanha (807.579), Estados Unidos (519.522) e França (436.984) são as nacionalidades visitantes em destaque.

Isto significa que o número de hóspedes mais do que quintuplicou neste período de três décadas. Dito de outra forma, onde em 1995 tínhamos um hóspede, temos hoje 5,5 hóspedes.

Em 1995, 61% das dormidas no Porto e Norte eram de nacionais. Em 2024, 63% das dormidas foram de visitantes estrangeiros, o que demonstra bem o percurso de internacionalização feito nestes 30 anos.

E quanto à distribuição das dormidas dos hóspedes estrangeiros pelo país? Em 1995, o top 3 era constituído por Algarve, Lisboa e Madeira. Já em 2024, os números mostram Lisboa em primeiro lugar, seguida pelo Algarve e pelo Porto e Norte.

A quota de mercado do Porto e Norte, relativamente às dormidas de hóspedes estrangeiros, passou de 4,6% para 15,8%, mais do que triplicando o seu peso nos números nacionais.

Há 30 anos, a região contava com um total de 364 estabelecimentos hoteleiros, entre hotéis (80), hotéis-apartamentos (2), apartamentos turísticos (3), aldeamentos turísticos (2), motéis (3), pousadas (8), estalagens (13) e pensões (253).

Em 2023, de acordo com dados da Direção Municipal de Desenvolvimento Urbano da Câmara Municipal do Porto, citados pelo Porto Canal, só na Invicta havia 148 hotéis em funcionamento e, na altura, estavam 98 em fase de licenciamento. O mesmo meio de comunicação avançava que, segundo dados do Turismo de Portugal, a capacidade era de 20.078 camas, em 2023.

Em 1995, o número de hotéis na cidade do Porto com capacidade para o segmento MICE contavam-se pelos dedos de uma mão. Hoje, são dezenas, incluindo diversas marcas internacionais.

Além de o Porto se manter como o grande motor desta região, vale a pena destacar as outras sub-regiões, que também elas tiveram uma evolução assinalável.

No Douro, as dormidas de estrangeiros cresceram 20 vezes. No Minho, estas dormidas quintuplicaram. E em Trás-os-Montes, as dormidas de nacionais quase que triplicaram em três décadas, contribuindo para a atratividade da região.

E assim estão lançados os próximos 30 anos da ATPN e da região.

Como adiantou Luís Pedro Martins, Presidente da Associação, os principais desafios estão bem identificados e passam por continuar a melhorar as ligações aéreas, captando mercados com elevado poder de compra; continuar a qualificar a oferta, garantindo que se corresponde às expectativas destes mercados mais exigentes; desenvolver e promover um território que apesar das assimetrias é um único; apostar na digitalização e na sustentabilidade; sem esquecer, claro, as oportunidades de colaboração com as regiões que, em Espanha, fazem fronteira com o Porto e Norte.

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